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Ouvindo o Silêncio: Como Aprendi a Esperar o Tempo do Cliente

10 de maio de 2025 por
Ouvindo o Silêncio: Como Aprendi a Esperar o Tempo do Cliente
Newstart, Youssef Bouguerra

Há um momento, em quase todo projeto de transformação, em que o silêncio se instala.

Às vezes ele vem depois de uma apresentação intensa. Outras vezes, após a entrega de um diagnóstico. Em algumas ocasiões, ele simplesmente aparece no meio do processo — sem explicação clara, sem conflito aparente.

Durante muito tempo, esse silêncio me incomodava. Parecia sinal de que algo estava errado: perdi o timing? O cliente se desinteressou? Fiz a pergunta errada?

Mas, com o tempo, aprendi que esse silêncio tem algo a dizer. E, mais importante: aprendi a respeitá-lo.

Nem sempre é hora de avançar

Trabalhamos em um mundo que valoriza a velocidade, a entrega rápida, a ação. E, como consultores, muitas vezes sentimos que precisamos manter o ritmo, puxar a conversa, provocar decisões.

Só que nem sempre o cliente está pronto. Nem sempre é hora de agir.

Existem momentos em que o silêncio não é hesitação — é digestão. A empresa está processando. As pessoas estão refletindo. Às vezes, estão lidando com resistências internas, com reestruturações, ou simplesmente tentando entender o que aquela mudança significa para elas.

Insistir nesse momento pode atrapalhar mais do que ajudar. Empurrar uma solução quando o cliente ainda está tentando entender o problema pode parecer eficiente — mas é míope.

O tempo do cliente é parte do processo

Aprender a esperar o tempo do cliente foi um exercício de maturidade. E também de empatia.

Cada organização tem seu ritmo. Cada equipe, seu ciclo de confiança. Forçar o avanço pode levar a uma aceitação superficial, seguida de rejeição prática. Já respeitar o tempo das pessoas tende a gerar mudanças mais profundas e sustentáveis.

E isso não significa passividade. Significa presença. Significa estar disponível, continuar ouvindo, fazer as perguntas certas — mesmo que elas ainda não tenham resposta.

Silêncio também é sinal de confiança

Demorei a perceber, mas o silêncio, muitas vezes, também é um presente.

Quando um cliente se sente à vontade para não ter pressa, para não performar entendimento imediato, para digerir sem ter que reagir — isso é sinal de confiança.

Eles sabem que você está ali. Que não está medindo valor por palavras por minuto. E que pode acompanhá-los, mesmo quando o caminho ainda não está claro.

Nem sempre o que falta é ação. Às vezes, é escuta.

Hoje, quando o silêncio aparece, eu o recebo com mais serenidade. Ele é parte do ritmo de qualquer transformação real. Um lembrete de que consultoria não é sobre ter todas as respostas — mas sobre criar espaço para que as perguntas certas possam ecoar.

Às vezes, o melhor que podemos fazer é ouvir o silêncio. Ele quase sempre tem algo a nos ensinar.