A corrida atual das organizações querendo se tornar "data-driven" (movidas a dados) me relembra quando as mesmas queriam se tornar ágeis, talvez uns 10 ou 15 anos atrás. Adotavam as devidas cerimônias: daily, retrospectiva, planning, review, etc. Os times passavam a ter boards físicos ou digitais. Alguns levavam muito a sério o conceito de radiador de informação. Começava a se falar em backlog, discovery, Scrum, Kanban e por aí vai… Na prática, tinha muita diferença entre times que conseguiam entregar 8 vezes ao dia, e times que continuavam entregando uma vez por semestre a muito custo. E a culpa não era dos times, nem da falta de processos e ferramentas “ágeis”. O fato é que a agilidade, antes de mais nada, é uma filosofia, e se a cultura organizacional não abraçar o espírito ágil, no sentido de verdadeiramente empoderar os times para tomarem decisões, a transformação não acontece. Ser ágil é ter uma cultura ágil, e isso não é o caso da organização que implanta processos e ferramentas ágeis, mas continua tomando decisões top-down. É sobre pessoas, lideranças e cultura.
Vejo um fenômeno semelhante acontecendo hoje nas organizações que buscam o rótulo de ouro “data-driven”. Investem em tecnologia e em times de analistas, cientistas e engenheiros de dados, porém ignoram alguns elementos básicos:
- Não têm uma direção bem definida em relação ao que querem alcançar a partir dos dados;
- Ainda não confiam o suficiente nos dados para que sejam a base para tomada de decisão - de todas as decisões;
- Os recém criados times de dados não são empoderados para encontrar novas soluções e disseminá-las na organização;
- Não têm um plano para capacitar toda organização para que a mudança seja realmente efetiva.
Ser “data-driven” é ser obcecado por dados, o que quer dizer que os dados são o ponto de partida para todas as decisões mais críticas da empresa. Os dados são confiáveis. As pessoas confiam neles e os usam para tomar decisões. Toda a organização é alfabetizada no quesito dados. A organização está pronta para alterar seu modelo de negócio a partir do que ela está aprendendo com os dados. Uma grande mudança, de fato! Uma grande mudança cultural, como era o caso com a agilidade. E as empresas que já passaram pela transformação ágil são mais bem preparadas para este desafio.
Uma pesquisa recente realizada pela Data Hackers , em parceria com a Bain & Company , declarou o Grupo Boticário como a empresa mais admirada da América Latina na área de dados. Philipp Nguyen, diretor executivo de Dados do Grupo Boticário, diz: “A estratégia do Grupo Boticário tem como norte tornar as informações sobre essa vertente acessíveis para toda a empresa [...]. Cada interação dentro do ecossistema da empresa gera dados e usamos essas informações para melhorar processos, produtos e experiências. O nosso avanço no ranking é resultado de uma agenda consistente, que passa por investimento tecnológico, desenvolvimento de pessoas e soluções que impactam positivamente clientes e sociedade.” Daniel Knopfholz, vice-presidente de Tecnologia e Gente do Grupo Boticário, acrescenta: “Somos uma empresa data driven, mas também uma love tech, e ao unirmos tecnologia e sensibilidade humana, pilares fundamentais da cultura do Grupo Boticário, alavancamos a empresa como inovadora, sem perder o toque humano, a relação com as pessoas, que é tão essencial.”
Ambos os executivos confirmam que a chave para ter sucesso como organização data-driven é a obsessão com os dados e uma estratégia coerente centrada na cultura e na capacitação das pessoas. O ponto de partida, então, é ter uma estratégia de dados sólida, contemplando questões-chave como a estratégia do negócio, a cultura, as capacitações necessárias, a governança dos dados, a arquitetura adequada para o contexto em questão, a infraestrutura que irá suportá-la, a segurança dos dados e, por último mas não menos importante, os aspectos éticos e legais.
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